sábado, 6 de dezembro de 2014

Para onde foi o amor?


Me pergunto para quem são hoje tuas juras de amor. Para quem os beijos? Para quem os arrepios?
Para quem seus lábios abrem em um sorriso? Para quem fazes o telefonema só para ver como está indo o dia?
Para onde foi o amor que em seu peito morava? Onde escondeu-se o calor que nem mesmo um oceano inteiro gelava? Onde foi a velha chama que nada no mundo apagava?
Será que passou, como tudo passa? Como os tempos de criança que só ficam na memória? Como momentos tão singelos que ecoam na história? Perdeu-se no tempo e no espaço? Acabaram-se os nós? Desfez-se o laço?


Onde foi amor? Será que ainda mora em mim?
Será que já morou?

Será que morará?
E se vier, insistirá em tardar?


quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Acreditava

Acreditava no céu. Quando olhava para cima via pássaros.
Deixei de acreditar.
Os pássaros sumiram.

Acreditava no mar. Quando nele mergulhava nadava com peixes.
Deixei de acreditar.
Hoje parei de mergulhar.

Acreditava na terra. Caminhava sobre ela.
Deixei de acreditar.
Não tenho onde caminhar.

Acreditava em mim.
Deixei de acreditar.
Sou mentiroso.

Acreditava em nada.
Deixei de acreditar.
Não acredito em nada.

A porta

Abri a porta de casa.
Chamei uma moça que passava na rua.
Ela me deu uma pedrada.
Chorei. Sangrou.

A porta de casa aberta.
Eu sangro e choro.
Quero entrar,
Enquanto a moça se vai.

Tenho medo.
Medo de entrar e nunca mais abrir a porta.
Tenho medo da porta.
Ela abre e fecha.

Tenho medo da porta.
Sou eu que a abro ou a fecho.
Tenho medo de mim.
A porta é minha.

A porta sou eu.

Devo, Não nego e não pago

Às vezes queria mergulhar no poema
E me fazer poesia.

Eis aqui meu dilema:
Não ser o que devia.

O que devo
Não pago.

Estou em débito,
Sem pagar.

Processe-me
Que eu processo-me.

Procurando eu

Me procurando, esbarrei comigo. Dis(z)traida-mente. Foi só quando deixei de procurar com atenção e me deixei ao acaso, é que me achei. Olhei em meus olhos e me olhei de volta. Peguei minha mão e ela me pegou. Beijei minha boca e cuspi. Cuspi eu.
O eu que encontrara não era tão eu. O eu que cuspi, nem sei se era eu. Afinal de contas, quem eu era? Quem eu sou? Meu encontro comigo, foi desencontro.
Procurando quem eu era, perdi o que sou. Perdendo quem eu era, me tornei o que sou. Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo dessa morte?
Quem poderá me achar, se sou desencontro? Onde vou, lá estou. Ao me procurar, já fugi. E na fuga um encontro. E no encontro, desencontrar.
Eu, eu, eu. Quem eu sou?

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Arrumação

Dia de arrumar:
O armário e a vida.


Jogando fora textos velhos,
Palavras velhas,

Eu's velhos.

Dia de pensar:
Como voa a vida!
Se abrir a gaiola ela voa.

Nostalgia. Saudade boa do que foi e não mais é.
Saudade do que não foi e pode ser.

Dia de ar-rum(o)-ação.

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

O Fim

Com essa dança estranha me des-peço da música. 
A última valsa.

Com esse falsete encerro a canção.
A última palavra.

Com esse toque paro de tocar.
O último instrumento.

Com essa voz paro de falar.
As últimas palavras.

Com essas lágrimas paro de chorar.
Fecho os olhos.

Não mais porta aberta. Não mais convite de festa.
Nem de funeral.

A casa se fechou. A missa acabou.
Não temos vagas. Estamos fechados.